21 de jan. de 2013

Leitura recomendada: Sangue Quente (Warm Bodies)

Título: Sangue Quente
Autor: Isaac Marion
Editora:  Leya Brasil
Gênero: Literatura Estrangeira / Romance
Páginas: 256
Formato: 16 cm x 23 cm
Ano: 2011

Sinopse: R é um jovem vivendo uma crise existencial – ele é um zumbi. Após vivenciar as memórias de um adolescente enquanto devorava seu cérebro, R faz uma escolha inesperada, que começa com uma relação tensa, desajeitada e estranhamente doce com a namorada de sua vítima. Julie é uma explosão de cores na paisagem triste e cinzenta que envolve a “vida” de R e sua decisão de protegê-la irá transformar não só ele, mas também seus companheiros mortos- vivos, e talvez o mundo inteiro.Assustador, engraçado e surpreendentemente comovente, Sangue Quente fala sobre estar vivo, estando morto, e a tênue linha que os separa. 

O Autor: Isaac Marion, além de fotógrafo, pintor e músico, é um jovem escritor americano de 30 anos. Teve vários empregos bizarros, incluindo entregar camas hospitalares a doentes em estado terminal e supervisionar visitas parentais com crianças entregues à tutela do Estado. Não é casado, não tem filhos, não tem estudos universitários e nunca ganhou prémios literários. Sangue Quente é o seu primeiro romance. 

Vai Lendo!

Assim como prometido, aqui estou trazendo mais uma crítica de livro antes que as férias de janeiro se acabem! Terminei de ler há pouco tempo e já vim correndo escrever, enquanto a memória está totalmente fresca e nítida.

O que você, fã de filmes de terror, pensa quando falam de um romance zumbi? Provavelmente: "Que bosta" ou "Já não bastasse a arruinação da figura vampiresca, agora querem destruir de vez os nossos queridos zumbis?" . Também pensei assim e com muito preconceito, decidi iniciar minha leitura do Sangue Quente, o tal romance zumbi que ganhou destaque no ano passado por causa do filme que fizeram dele (e que estreará dia 1º de Fevereiro nos cinemas!).

E de fato, o início do livro é uma bosta (perdoem-me o palavreado, mas o que é simplesmente é). Não dá para engolir que um zumbi fale (mesmo que seja pouco), pense e faça planos. Zumbis são seres ferozes e irracionais, que possuem apenas um objetivo em mente: comer a carne dos vivos. E só de imaginar que teria romance, fiquei com mais raiva ainda. Aí parei de ler na quinta página. Dei um intervalo de duas ou três semanas, mas decidi continuá-lo pois terminar de ler já havia virado uma questão de honra tinha que escrever sobre esse livro aqui no VA, por mais ruim que ele poderia ser.

Continuei a leitura da história do rapaz zumbi que atende pela inicial R (leia em inglês, pois será necessário para uma melhor compreensão de determinada parte do livro onde as garotas inventam um nome para ele), até que enfim aparece a guria, a tal de Julie. Aí pronto, já pensei "é agora que ferra mais ainda! A mina olha para ele, ele olha para ela, e os dois esquisitos, atraídos mutuamente por suas esquisitices mútuas, se apaixonam perdidamente dando início a um imbecil pseudo romance supostamente épico e sombrio". Mas é aí que começou a minha agradável surpresa: na maior parte do livro, não há romance entre a garota e o zumbi. Eles se ajudam, são amigos, mas sem frescuras. E pronto. 

E o foco nem é o romance em si. Digo... é e não é. O foco na verdade é no amor, que seria a única cura para a praga dos mortos vivos. E é isso. Não tem momentos em que os dois andam de mãos dadas num jardim de flores, vestindo camisetas de lã idênticas e sorrindo abobalhadamente para os animaizinhos que passam e os encaram com desprezo. Não tem casal rolando na grama e fazendo juras de amor. O cenário é terrível: tudo está destruído, a última resistência humana é num Estádio que já está cheio demais e praticamente não há mais esperanças. Parece que tudo está perdido, que o mundo morreu e os humanos estão morrendo pouco a pouco depois dele. Os dois tentam sobreviver e consertar as coisas, e não ficar com frescura por aí. E sim, o livro tem sangue, lutas, tiros, zumbis devorando pessoas e certos momentos que podem até causar um leve (levíssimo) medo.


Dentro desse cenário pós-apocalíptico surge um zumbi jovem que começa a mudar. E muda mais ainda quando começa a se importar com mais alguém além dele mesmo e de seu próprio estômago. E a partir dele, algo novo pode começar a acontecer. Sério, isso tudo no livro, fica muito legal!

Mas e aí Ninne, e essas coisas dos zumbis falarem e tal. Sim meus caros, de fato é bem estranho no começo. Pra falar a verdade, chega a ser detestável. Mas aí você começa a lembrar (assim espero), que não existe uma regra definitiva para zumbis, tendo em vista que são personagens meramente ficcionais. Ou seja: novas regras podem ser inventadas para eles (desde que não extrapolem muito né...). Veja, em filmes como Extermínio e REC, os zumbis correm iguais loucos e já em outros filmes eles são bem lentos. Em filmes antigos eles falavam "Ceéérebroooo" e até no Terra dos Mortos os zumbis começam a possuir uma certa inteligência. Porque não juntar um pouco de cada aspecto e começar a intensificá-los? Mas intensificá-los porque uma cura está começando a surgir. Imagine se todos aqueles zumbis do The Walking Dead (quase todos, na verdade...) pudessem ser curados? Como seria? Como iria começar? Quando, onde e por que?

Respostas para essas perguntas estão no Sangue Quente. E são respostas convincentes e interessantes. Claro, tem uma ou outra babaquice no meio, até porque o autor as vezes escreve de forma bem infantil. No entanto o cara soube analisar bem o ser zumbi. O cara foi a fundo, buscando entrar na mente de um zumbi, entrar na mente dos que enfrentam um zumbi e ainda achar a cura e a causa da coisa toda. O mais legal é a forma que ele apresentou a mente de um zumbi. Como pensam? O que pensam? Afinal... eles pensam? Ah sim, e tem o fato muito bacana dos zumbis conseguire "ver" por um breve momento as lembranças dos cérebros que comeram, o que deixa tudo ainda mais interessante!

Mas claro que nem tudo são flores. Teve algumas coisas que achei bobas e/ou exageradas. Entre elas as principais:

1. O zumbis formarem uma sociedade, com escola, igreja (sim, igreja), adoção de crianças zumbis, casamento e uma certa hierarquia entre Carnudos (zumbis "mais jovens") e Ossudos (supostamente "mais velhos" ou talvez apenas mais ruins...), como se os Ossudos fossem os sábios anciões da comunidade zumbi. Só faltou um campinho de futebol para eles baterem uma bolinha uma vez ou outra nos finais de semana.¬¬ Estava interessante eles se agruparem. Até aí aceito. É meio estranho eles bolarem plano para atacar a cidade e trazer restos para os que ficaram, mas ok, vamos tolerar. Agora zumbi casando, adotando filhos e indo pra escola? Achei um certo exagero bem exagerado. Uns pensam, outros não pensam, mas não fica claro como todos basicamente pensam e isso deixa tudo meio confuso, pois num certo momento é nos passada a imagem de que eles são seres bem ignorantes e em outro eles estão lá indo para uma escola, organizados em filinha indiana... 

2. Senti uma grande sensação de que Sangue Quente é um Crepúsculo para garotos bobinhos. Vamos tirar todas as frescuras, colocar seres mais violentos e tirar a menina pura e imbecil . Resultado? Crânios partidos e sangue para todos os lados, zumbis comedores de cérebro (e coxa, e tripa, e braço, etc.) e uma menina bem vadia (o sonho de muitos moleques). Ah sim, e bastante palavrão, só para deixar mais "forte". No final das contas, achei esse esforço de ser "sem frescuras", bobo e infantil. Imagino um garoto de 15 anos, no auge dos seus hormônios, lendo o livro e se deliciando com os palavrões, rindo a cada trecho em que está escrito a palavra "transar" e sonhando com a mina fátia vadia que fala palavrões sem pudor, perdeu a virgindade com 13 anos, já se prostituiu, fuma baseado, curte uns rock da vida, mas é linda, graciosa e delicada como um anjo. Por favor né? Depois reclamam que as garotas sonham com príncipe encantado... Esse jeitinho infantilizado do livro chega a irritar muito em certo momento, mas depois a história segue e você deixa pra lá...

Isaac Marion, o autor de Warm Bodies.

Por fim, apesar de ser meio infantil, meio bobinho e ter certos exageros, Sangue Quente não é de todo ruim. Na verdade surpreende por nos fazer pensar em nossa própria vida e na maneira que conduzimos ela, pois afinal, as vezes não parece que muitas pessoas já estão "mortas" por dentro? Desistem dos seus sonhos, desistem da esperança, dizem que o mundo é uma merda e que nada nunca vai melhorar... Mas será que o mundo é um lixo mesmo ou as pessoas que estão nele é que são? E se continuarmos assim, "mortos" por dentro, o que pode acontecer? Recomendo ler com a mente aberta e sem preconceitos. Não é um livro grandioso e magnífico, na verdade apresenta diversos clichês de literaturas meramente comerciais. Porém também não é a porcaria que todos estão imaginando.

Onde comprar? O preço mais barato que encontrei foi na Submarino, mas você pode achar o livro também nas Americanas, Saraiva e Cultura.

Filme: Como disse no início do post, em Fevereiro estreia Meu Namorado É Um Zumbi, versão cinematográfica desse livro. O título em português ficou podre, Sangue Quente é definitivamente melhor. Pelo pouco que pude observar do trailer, parece ser até fiel ao livro, porém com um tom mais humorístico. Gostei do trailer, até eu cheguei a comparar com Crepúsculo, mas mudei de opinião (por enquanto). O filme parece ser divertido, conta com bons atores e bons efeitos especiais, além de possuir uma história diferente e surpreendentemente interessante. Confira o trailer do filme clicando aqui.

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Deixo abaixo mais alguns detalhes sobre o livro. CONTÉM SPOILER! Não leia se ainda pretende ler o livro e não quer saber sobre coisas importantes que acontecem nele!

- Por que disse que o livro contém clichês típicos de literaturas meramente comerciais? É aquela coisa: um jovem com problemas se apaixona por uma jovem problemática, os dois gostam das coisas que estão na moda entre os jovens da atualidade e agem como jovens da atualidade, mas os dois são especiais, porque irão salvar o mundo. Digo, o livro tem todos os elementos básicos para fazer com que jovens e adolescentes se apaixonem pela história.

- A leitura do livro é fácil e como possui menos de 300 páginas, terminá-lo de ler é trabalho para poucos dias ou, para outros, poucas horas.

- A alternância entre os pensamentos do zumbi e os pensamentos das pessoas das quais ele já devorou o cérebro, ficaram chatos. Ocorre no momento em que R entra pela primeira vez no Estádio dos Vivos e simplesmente cansa. Poxa, queremos saber logo da história e não ficar lendo as lembranças dos mortos! Era para soar algo poético ou sombrio, mas ficou besta.


- O final é Disney e diversos trechos são escritos como se fosse um roteiro para filme. Alguns trechos são legais, outros são forçados... O final poderia ter ficado melhor e menos "cinematográfico".

Um comentário:

  1. Muito boa sua analise. Eu ja estava com vontade de ler esse livro ai agora fiquei mais ainda e o filme parece q sera interessante apesar do titulo horrivel colocado no Brasil.

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