Título Original: Taare Zameen Par
País de Origem: Índia
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 165 minutos
Ano de Lançamento: 2007
Direção: Aamir Khan / Amole Gupte
Elenco: Darsheel Safary (Ishaan Awasthi), Aamir Khan (Professor Ram Shankar), Tisca Chopra (Maya Awasthi, mãe de Ishaan), Vipin Sharma (Nandkishore Awasthi, pai de Ishaan), Sachet Engineer (Yohaan Awasthi, irmão de Ishaan), Tanay Chheda (Rajan Damodran), M.K. Raina (Diretor), Lalita Lajmi (Ela mesma, a juíza da competição de pintura).
Sinopse: Ishaan é um garoto de nove anos que não possui muitos amigos. Vive com sua família em uma pequena comunidade da Índia. Ishaan apresenta muitas dificuldades na escola, tendo sido reprovado no ano anterior e tendo risco de ser reprovado novamente. Já seu irmão é o melhor da classe, com notas altíssimas e um grande sucesso nos esportes também. Após uma reunião com os professores de Ishaan, que informam aos pais que o menino não apresenta avanços na escola, o pai decide enviar o garoto a um colégio interno para que seja disciplinado e consiga êxito nos estudos. Após um período em que Ishaan se sente cada vez mais triste e solitário, sofrendo severas punições dos professores, entra um novo professor na escola, que talvez pode salvar Ishaan.
Vai Lendo!
Começarei a primeira crítica do novo Vai Assistindo com um gênero bem diferente do terror. Como Estrelas Na Terra é um belo filme indiano de drama que vi esses tempos e gostei muito! Os indianos sem dúvidas possuem ótimas produções, filmes divertidos e muito bonitos...
Aqui no Brasil o filme tem dois títulos: Como Estrelas na Terra e Somos Todos Diferentes, porém o Como Estrelas na Terra é a tradução correta do título original do filme e também se encaixa perfeitamente com a história do mesmo. Mas afinal, qual é o tema principal desse filme?
Por cima, pode-se dizer que é sobre um distúrbio de aprendizagem bem conhecido. Mas Como Estrelas na Terra envolve muito, muito mais do que isso.
Primeiro temos a questão da estrutura de ensino da maioria das escolas atuais. Aquela coisa: os alunos sentam em fileiras, ficam calados, enquanto o mestre lhes passa todo o conhecimento. Tem que tirar notas boas, tem que estudar do jeito que os adultos falam. Aluno não tem voz, aluno só tem que estar ali para aprender e o professor para ensinar. Mesmo que as aulas sejam maçantes e o aluno não consiga se concentrar, isso é problema dele, que ele se resolva. Tem que acompanhar o ritmo e ponto final.
Em muitos países, em especial os mais desenvolvidos, esse modelo está sendo quebrado (ainda bem!) e dando espaço para um novo paradigma educacional: os professores não devem apenas passar o conhecimento e selecionar alunos, classificando os "alunos bons" e "alunos ruins". Professores devem aprender com os seus alunos e ajudá-los a desenvolver seus talentos e conhecimentos. O aprendiz não é um ser sem voz, sem a luz do conhecimento. Eles podem ensinar os colegas e professores, descobrir coisas novas, expandir seus conhecimentos e construir novos com a ajuda de todos. A escola não deveria ser um lugar maçante e opressor, muito menos o único meio da criança adquirir educação. Pais, alunos, professores e demais funcionários devem se unir para a construção de uma nova sociedade, sem esse excesso de baixarias e maldades que vemos por aí. Pois afinal, os jovens são o futuro da nossa humanidade.
No filme, Ishaan tem problemas de aprendizagem, mas os professores querem apenas entupi-lo de matérias, sem ver que ele não é apenas mais um aluno, ele é um ser humano, é único. Ishaan aprende do seu jeito, assim como cada um aprende de um jeito! Ele tem dificuldade com letras e números, mas é incrível com artes. Tem gente que manja pra caramba de matemática e se acha até por isso, mas escreve mal ou é péssimo em artes. Sabe, nos meus tempos de escola nunca entendi porque matemática tinha que ser mais importante que artes.
Como Estrelas na Terra explica isso: porque o que importa é o tempo e o dinheiro. Ou melhor: como você usa seu tempo para ganhar dinheiro. Um artista custa a ganhar dinheiro e muitas vezes não ganha muito assim. Um engenheiro, um médico ou um empresário costuma ganhar muito. Qual compensa mais? Fazer o que gosta, nem pensar. Tem que fazer o que dá dinheiro! Aposto que algum familiar já lhe falou isso, principalmente quando você foi escolher um curso na faculdade. "Filho(a), trata de fazer o que dá dinheiro! Seja esperto!" (tenho nojo desse "seja esperto", geralmente dito por pessoas que são espertas, mas nunca foram inteligentes). Se você resolver fazer engenharia, direito, medicina ou administração, você será o orgulho da família. Vai tentar fazer o resto para você ver! Nem começou a faculdade e já será tratado como o falido da família.
Imagina quantos talentos são perdidos nessa lógica sem lógica? Por que Ishaan tem que ser bom em contas e virar um empresário como seu pai, se pode ser um grande pintor? Por que não dá dinheiro rápido? Por que não é uma profissão que representa um certo status social? Realmente, nesse ponto também vemos como nossa educação foi e ainda é muito falha.
Felizmente, surge na história do filme um professor incrível, que consegue perceber tudo isso e trata cada aluno como único! Ram Shankar (interpretado pelo próprio diretor do filme) vê que o que falta nos alunos é incentivo e reconhecimento. E isso falta também para Ishaan. A partir daí, o filme fica mais lindo e nos arrepia em diversas cenas. O professor lembra muito outro professor bem conhecido do cinema: John Keating (Robin Willians) do filme Sociedade dos Poetas Mortos (1989). Ambos transformam seus alunos apáticos em jovens cheios de interesses pelos estudos, ambos são criticados por colegas por darem aula de um jeito diferente e ambos dão importância para os talentos de cada estudante.
Novo professor!
Todas essas questões são abordadas de maneira bela e emocionante. Como todo filme indiano que se preze, Como Estrelas na Terra tem muitas músicas e uma cena de dança bem animada. As músicas expressam exatamente o que está ocorrendo no momento, é simplesmente lindo! Quando Ishaan está triste, a música cai como uma luva para nos emocionar e nos envolver mais ainda com o drama do personagem.
Voltando para o tema base do filme, este também foi mostrado de forma convincente e bem explicativa. Sentimos ao menos um pouco como é ter as dificuldades do Ishaan. Nos desesperamos com ele e sentimos raiva. O mais triste é saber que há muitas crianças na mesma situação do garotinho. São chamadas constantemente de burras, preguiçosas e inúteis, quando na verdade apenas não aprendem como as outras crianças. Uma pena saber que para muitas não surgirá alguém como o professor... É uma questão delicada e muito importante e que foi mostrada da melhor maneira no filme. Não há como não se colocar no lugar do Ishaan, pelo menos um pouco.
Ishaan, mãe e irmão.
Nada disso funcionaria tão bem se a direção não fosse tão boa e sensível e os atores não fossem excelentes. O filme tem quase 3 horas, mas nem percebemos. E olha que é drama! É tão divertido, interessante e emocionante, que esquecemos que o tempo está passando. Nos mostrando que parar nossas vidas para apreciar uma obra de arte não é ruim não. Pelo contrário: aprendemos muito! Os atores dão um show, em especial Ishaan e seu professor. Atores incríveis!
o/
Está querendo ver um filme de drama diferente, bonito e que te deixará pensando em muitas questões da vida? Assista Como Estrelas na Terra! É um filme que nos faz perceber o quanto nosso sistema de educação está atrasado, como deixamos de dar importância para as coisas realmente belas e principalmente: nos mostra que cada um é diferente. Sim, nascemos diferentes, somos únicos durante toda a infância. Mas a sociedade nos modela em forminhas idênticas. Aí na adolescência passamos a agir como os outros e perdemos e muito nossa autenticidade. Cada um deveria ser único, pois nascemos assim. Não ache que as crianças são todas iguais, cada uma é diferente e suas peculiaridades deveriam ser valorizadas em vez de reprimidas.
Nota (0-10): 10
VÍDEOS
(Como não encontrei um trailer legendado, ou sequer um trailer, coloquei duas sequências do filme)
Muitos se identificam. Todos choram...
Não é estranho de notar como pessoas que vão contra essa ordem do mundo em geral são tristes, deprimidas, oprimidas, "esquisitas"... O filme mostra bem que se não se encaixar no padrão, é burro, é preguiçoso, é inútil! Triste.
Não sei por onde começar e não deveria começar a escrever às 2 da manhã...
ResponderExcluirTenho que registras que não considero o Quem Quer Ser Um Milionário um filme indiano. Foi feito na índia, mas a direção é do britânico Danny Boyle (28 Days Later, 127 Hours, Sunshine).
O filme começou bem, mas na chegada do novo professor é que a coisa me incomodou. Eu, como estudante no último período de Letras, tenho bastante antipatia pela maioria dos filmes que tratam do tema escolar. Geralmente o problema é que eles sempre mostram o professor como salvador da pátria, aquele que tem que resolver tudo e dar futuro para as crianças.
Professor tem que ensinar a matéria. Ponto. Professor não tem que dar show, não tem que fazer stand-up, não tem que ser palhaço. E qual é a primeira aparição do "bom professor" no filme? Vestido de palhaço, dançando e cantando. Entendo que ele é o professor de artes, mas o filme ajuda a criar a imagem de que professor tem que fazer mil coisas além do que ele estudou para fazer.
A escola está ai pra ensinar as crianças coisas que, de outra forma, provavelmente elas nunca iam ter contato. "Sabe, nos meus tempos de escola nunca entendi porque matemática tinha que ser mais importante que artes." - o Ishaan já era artista antes de ir pra escola, pra que ir prum lugar aprender uma coisa que você já sabe? Não é que a matemática é mais importante, é que é mas difícil de aprendê-la em outro lugar.
É uma questão muito complexa, é complicado dizer tudo em um comentário - passei esse semestre inteiro discutindo esse filme na aula de Planejamento e Orientação de Prática de Ensino, é muita coisa pra ser levado em consideração e discutida, mas acho que já dei a direção sobre o que penso.
Recomendo que você assista ao filme francês Entre Les Murs (no Brasil: Entre os Muros da Escola), que pra mim é o filme que melhor retrata o ambiente escolar sem mostrar o professor uma o herói da pátria.
E também a leitura desse artigo: Gente de humanas que faz um monte de coisa que não dá dinheiro
http://recordarrepetirelaborar.wordpress.com/2013/07/14/gente-de-humanas/
O documentário Esperando Pelo Super Homem
Realmente, não lembrei dessa questão, apesar de ter todo um ar de filme indiano, Quem Quer Ser Um Milionário é dirigido por britânico. Irei corrigir isso!
ExcluirEm relação o filme, realmente, professor não deve ser palhaço e nem salvador da pátria. Essa mudança não é algo que envolve só o professor. Como disse na postagem, tudo é necessário mudar. A escola, a família em relação a escola e seu filho, o jeito de dar aula, o jeito como o aluno é visto. Professor não tem que simplesmente chegar lá, tacar matéria e pronto. Não sei se vc já se sentiu assim, mas mtas aulas para mim eram cansativas e muitas vezes não aprendia nada, e dane-se se eu não tinha entendido, a matéria tem que continuar. Dane-se os seus talentos, vc tem que aprender o que vai dar dinheiro futuramente.
Não quis dizer que artes tem que ser mais importante que matemática. Quis dizer que as duas sim podem ter o mesmo nível de importância. Ou pelo menos, darem um pouco mais de importância para as outras matérias também.
O mundo não precisa ser podre Lauro. Não precisa ser sempre um lugar horrível. Tem muitas escolas fora do Brasil que esse sistema educacional funciona. Professor desenvolvendo habilidades dos alunos, alunos ensinando outros alunos, pais mais envolvidos na educação dos filhos todo mundo se ajudando. Está longe da realidade brasileira? Sim. Mas isso não significa que aqui as coisas nunca poderão melhorar.
Se o filme fosse mostrar da questão que a escola e família tbm precisam mudar, tudo passo a passo, seria melhor ser um documentário. Mas quiseram fazer um filme, para passar mais emoção e tal. Ficou bonito, mostra a ideia no geral. Claro que eu, vc e muitas outras pessoas entendem que as coisas não mudam fácil assim. Porém é ficção e algumas coisas irão sair um pouco da realidade. Não significa que a obra toda seja mentirosa, seja uma palhaçada. É um ideia e vale a pena ser levada em consideração.
Engraçado ler esses comentários aqui. Recomendo que ambos assistam um filme indiano também com Aamir Khan chamado "3 Idiotas" (3 Idiots). Outro filme maravilhoso, que fala exatamente sobre quem você quer ser e sobre a ilogicidade do sistema educacional, só que dessa vez tendo como pano de fundo o ensino superior. "Professor tem que dar matéria.Ponto." Será? Porque? Porque outro professor, dessa vez na faculdade, te ensinou assim? Ensinar com um nariz de palhaço deixa de ser ensinar? O sistema é limitado e se auto-sabota. A ideia não é que o professor seja um super-herói, é que todos possam pensar mais por si mesmos e menos por meio dessa espécie de cérebro coletivo que parece existir e ser quem querem ser, incluindo os professores. Você está, sem perceber, simplesmente repetindo um paradigma que não existe por si só, ele foi inventado por outras pessoas tão mortais quanto nós mesmos. E ele pode ser desconstruído. E sim, eu conheço profundamente as exigências do inicio da vida escolar até a Universidade. A diferença é que eu larguei, depois da metade, um curso de excelência em uma universidade federal que iria me dar muito dinheiro, mas me faria extremamente infeliz, e entrei em outro que é o que eu realmente quero fazer.Não sou rica, não gastei um tostão nesse processo, só confio na minha capacidade e descobri que o sentido da minha vida sou eu quem tem que fazer. :D
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